5 de junho de 2013

Arredaivos marinheiros! Estamos em pleno mar!

Muitas vezes, quando criança, tive uma vontade imensa de gritar isso de verdade… Brincávamos de Marinha mas eu, por ser o mais tímido, nunca me era dado ao direito de ser o comandante do infantemente hipotético navio!
Sofria, mas seguia meu desiderato marítimo, visto que para entrar nas forças armadas se precisava ter o físico totalmente são…
Hoje, com o passar do tempo, essa vontade-sonho caiu em naufrágio, alguns marinheiros co-irmãos desapareceram nas tempestades da vida e outros, ou estão pendurados na proa ou enjoaram dessa longa viagem da existência e simplesmente vegetam… Tristes dos que morrem em vida, em meio a águas aparentemente tranqüilas.
Às vezes fico na proa a apreciar as pessoas mais próximas… Vejo nelas defeitos de fabricação, apesar de funcionarem tão bem em seus ofícios.
Quantos se maquinam pelas suas próprias funções e são só trabalho e cansaço, em um mundo em que a arte e o sentimento humano deixaram até de ser mercadoria, devido à escassez de oferta e procura… Deprimo-me, fico pra baixo comigo mesmo; sou aquele que revê a própria vida e tem a triste constatação de ser um deles!
No navio existência enxergo, vez por outra, seres crianças a correr pelo convés e por lugares perigosos, sem se preocupar com a vida e com o perigo da morte… Vejo outros seres medrosos gritarem com medo de perdê-las; já outros, por admirá-las, tentam fazê-las parar, temendo cair na tentação de sê-las! Há uma linha muito tênue em tudo isso e, é muito difícil tentarmos ser gurús ou termos uma visão de helicóptero de nossas próprias terraplanagens…
Vivemos a fazer, ou tentar fazer, reservas para adquirir botes visando as turbulências, pois quem navega no Navio-Vida o sabe que “navegar é preciso, viver não é preciso”… Por certo, poucos atentaram que, para o Ilustre Poeta Português, “preciso” vem de se ter precisão ao navegar, se saber onde chegar… exatidão… e não necessidade como a maioria interpretou! Viver é incerto!
É vivendo tantas turbulências e calmarias, tantas decepções e algumas alegrias, que aprendemos a amar o barco da existência se é que o existiria… Que nos encolhemos no balanço exagerado do nosso barco em nossas dores que parecem que não passam nunca! Que tentamos nos vingar de um mar que se fez bravio e depois nos passa a serenidade de seus mormaços!
E ele possui uma complicada cofificação… não nos adianta subir ao topo do mastro e gritar ou atirar garrafas!
Ele possui a linguagem da existência perene e divina a que possamos almejar sentir, em meditação ou oração!
O sentir de algo que está além das palavras e que o ser humano se arvora a chamá-lo Deus, e tanto… Que esquece de procurar sentí-lo!

* Fiscal de Tributos, Jornalista, Membro da Associação Brasileira de Imprensa)